Esta semana na rubrica “A Essência da Herdade” começamos por entrevistar o enólogo Diogo Lopes, responsável por transformar as uvas da nossa herdade nos vinhos excepcionais que chegam até si, fruto do trabalho de toda a nossa equipa. Com uma vasta experiência e uma paixão inigualável pela enologia, o enólogo compartilhou conosco a sua trajetória, as suas inspirações e um pouco de como é o seu trabalho. Nesta conversa, vamos descobrir o segredo de como transformar a essência do Alentejo em cada garrafa, combinando a tradição e a inovação, que fazem dos nossos vinhos uma verdadeira obra de arte.
Como surgiu a sua paixão pela enologia e a ideia de ser enólogo?
“Eu tive uma infância com uma base rural muito forte, praticamente antes de ir para a escola fui criado com os meus avós, o meu avô era agricultor na região da Beira Interior e fazia um bocadinho de tudo, a cultura da vinha e fazer o vinho era sempre o ex-líbris, o ponto alto dele e naturalmente aquilo acabou por passar para mim. Em setembro, era a altura do ajuntamento familiar, das festas e grande atividade, era o grande orgulho do meu avô. Desde aí, fiquei com o bichinho de um dia ir estudar esta ciência e seguir esta carreira.”
Onde é que se inspira para criar novos vinhos?
“Eu acho que os vinhos são feitos no terroir, nas vinhas, eu acho que é muito importante nós irmos aos sítios, aos locais, sentir a vinha, sentir os ambientes que de alguma forma condicionam a própria viticultura e a maneira como a vinha responde e aproveitar tudo isso e tentar fazer uma interpretação muito pura do que estou a sentir no local. Acho que aqui não há tanto uma intervenção do homem, há muito mais o respeito puro pelo aquilo que é a essência do terroir e a expressão máxima daquela vinha, naquele sítio.”
Qual é a sua casta favorita e porquê?
“Sou muito de vinhos brancos e eventualmente tenho de selecionar uma casta branca, seleciono o arinto, porque é uma casta super versátil e permite fazer um bocadinho de tudo, desde espumantes, vinhos de entrada, vinhos estruturados em barrica, e tem uma grande adaptabilidade aos sítios e aos locais. Eu acredito muito que o arinto é, não só uma das melhores castas portuguesas como uma das melhores castas do mundo.”
Com os nossos vinhos, pretendemos levar a alma do Alentejo até ao copo dos consumidores. O que acha mais difícil no que toca a criar vinhos únicos e que expressem a alma alentejana?
“O Alentejo é uma região muito grande, representa quase um terço do território português e tem diferentes ambientes, diferentes terroirs, diferentes zonas. Eu acho que o Alentejo é efetivamente uma região que tem tido um sucesso extraordinário com a relação com os consumidores, pelo calor, pela energia que a região tem, os vinhos acabam por ser um bocadinho mais polidos, mais redondos e mais fáceis. Nesse sentido, o que eu acredito é que, por exemplo, nós aqui em Montemor-o-Novo, onde estamos inseridos, conseguimos ter aqui um equilíbrio muito grande entre horas de sol, a temperatura na altura do pico do verão e índice de chuva. É uma zona em que chove um bocadinho mais e com isto conseguimos mostrar que o Alentejo é efetivamente diverso, tem diferentes interpretações e aqui nós em Montemor conseguimos ter uma interpretação muito própria e muito especial, muito bonita naquilo que são os vinhos da Herdade do Menir.”
Qual é o vinho da Herdade do Menir que achou mais desafiante ao longo da sua criação?
“Naturalmente, dos vinhos que fazemos, o Vale de Ancho é sempre o vinho mais desafiante por tudo, porque é um vinho que só nasce em anos muito específicos e muito especiais, tem de haver um equilíbrio incrível entre aquilo que é a expressão da natureza, as condições climáticas do ano e a influência e o trabalho do homem. Portanto, infelizmente como isto não depende só de nós, depende muito mais propriamente da natureza, só mesmo em anos muito específicos e muito especiais é que nós conseguimos fazer estes vinhos e naturalmente são sempre super desafiantes, o Vale de Ancho é o grande desafio que eu tenho enquanto técnico neste projeto.”
Que concelho daria a quem está a começar agora no mundo da enologia?
“Eu acho que acima de tudo o importante é ter uma grande paixão por este setor, eu acho que isto é um setor em que nós só conseguimos ter sucesso se o vinho for a nossa vida, a nossa paixão, o nosso hobbie, isto tem de ser um bocadinho de tudo, tem de haver o lado do trabalho, o lado lúdico, tem de haver uma grande capacidade de trabalho e dedicação porque o trabalho em enologia não é só abrir garrafas e provar vinhos. Há que ser um grande estudioso das vinhas, das parcelas, das técnicas, tem de haver uma grande dedicação, por vezes com algum prejuízo na parte pessoal, mas isso faz parte do inicio da carreira portanto, o que eu sugiro aos próximos jovens que querem seguir esta carreira é que se dediquem de corpo e alma porque no final é tudo muito satisfatório, no sentido daquilo que nós recebemos de volta. É efetivamente uma profissão muito desafiante mas com imenso retorno.”
Sente uma responsabilidade acrescida no seu trabalho após ter sido eleito Enólogo do Ano em 2023?
“É natural, sinto um bocado, é um reconhecimento que me encheu de orgulho, mas também é algo que eu partilho muito com as minhas equipas, porque muitas das vezes o enólogo acaba por ser a face um bocadinho mais visível no projeto, de uma forma até um pouco injusta porque na verdade são equipas multidisciplinares, na vinha, nas adegas, na comercial, todos ajudam para a divulgação e para aquilo que é a criação da marca e da identidade do projeto. Mass eu recebi-o com muito orgulho, fiquei naturalmente muito contente e é natural que agora queira, no mínimo, honrar aquelas pessoas que me distinguiram e tentar fazer o meu melhor trabalho possível para dignificar todas as pessoas que trabalham comigo porque todos fazem parte um bocadinho deste projeto e deste prémio.”
Qual é a melhor parte de ser enólogo?
“Eu acho que acima de tudo é ter uma vida muito ligada ao campo, que acho que é fundamental, nós não vivemos fechados em escritórios ou em laboratórios, temos sempre uma ligação muito forte, muito presente com o campo e com o ar livre, que acho que é algo fantástico, mas não posso deixar de admitir que a melhor parte, é mesmo a parte de abrir garrafas e provar vinhos, é partilhar e estar com pessoas, com técnicos, com amigos, com colegas, a provar e a discutir vinhos, essa é efetivamente a parte que me dá imenso gozo e que acho que é única e muito especial.”
Se tivesse de escolher uma frase para descrever a sua carreira como enólogo, qual seria?
“Eu tenho uma frase que eu uso muito em inglês, porque isto hoje em dia o mundo é muito universal, nós partilhamos muito a informação um bocadinho por todo o lado, temos clientes pelo mundo fora, e eu costumo assinar ás vezes alguns dos textos com uma frase em inglês que eu acho fantástica e que pode ser traduzida mas eu gosto de dize-la em inglês que é: Eu sou o Diogo, making wine for a living and loving it, que é um bocado isto, eu faço vinho para a minha vida e adoro, portanto, eu efetivamente sou feliz a fazer isto que é fazer vinho. Fazer vinho é a minha vida, é aquilo que eu sou, como eu me defino e não queria fazer outra coisa.” – Diogo Lopes